Notícias Expressar sentimentos através de recursos artísticos

O distanciamento social que estamos vivendo pode provocar distintos sentimentos que, as vezes, são difíceis de reconhecer ou lidar. Medo, angústia, solidão, raiva, tristeza… são alguns sentimentos que não gostaríamos de sentir, mas que podem surgir neste período.

Outra situação que pode ocorrer quando ficamos dentro de casa 24 horas por dia com outras pessoas é acentuar eventuais conflitos. É importante exercitar a paciência e tentar olhar para para esse momento de outra forma, por exemplo se afastar, respirar e se perguntar: esse conflito é inevitável? Eu posso, neste período do distanciamento, relevar alguns comportamentos alheios que me incomodam? Eu posso flexibilizar algumas regras ou combinados que temos na nossa rotina habitual? Que sentimento essa situação causa ou pode causar em mim?

Sabendo que sentimentos não agradáveis podem surgir e ocasionar situações conflituosas (consigo e com os outros), é importante ter alguns “escapes” para ajudar a lidar com eles.

A primeira coisa que devemos fazer para buscar minimizá-los e lidar da melhor forma é legitimá-los, é não negar o que está sentindo, é reconhecer que esse sentimento é real. Permita-se sentir.

Pessoas com deficiência intelectual podem ter mais dificuldade em reconhecer e expressar e dificuldade em lidar com eles, o que pode gerar comportamentos como ansiedade, isolamento ou agressividade. É muito importante que esses sentimentos sejam validados e sejam acolhidos, independente da forma como são expressados.

Uma sugestão que dou é reservar um espaço do tempo para expressar os sentimentos através da arte. A arte é uma potente ferramenta que facilita “colocar para fora” o que está dentro de nós e possibilita diversas formas de expressão.

As dicas que darei podem ser realizadas em casa, com materiais simples, por familiares, cuidadores e pessoas com a deficiência. É importante observar qual a disponibilidade para elas, levar em consideração as habilidades de cada um e fazer, preferencialmente, em um espaço tranquilo, onde possa ter o mínimo de interferências. Também é importante ressaltar que essas atividades não têm o intuito estético, não tem feio, não tem bonito, não tem certo e não tem errado. A regra essencial é expressar o que sente, sem julgamentos. Não se cobre demais, tente focar mais nas emoções do que na razão.

Ao final das atividades, olhe para o que expressou e perceba os detalhes da sua representação, lembre-se que é o seu sentimento. Não é necessário falar a respeito, somente o processo já vai mobilizar novas sensações, porém, caso queira compartilhar ou esteja fazendo junto com outra pessoa, a troca pode ser importante e enriquecedora. Conversem um pouco sobre o que foi representado. Deixar exposto pela casa e/ou escrever sobre o que foi feito também pode ajudar a lidar com esses sentimentos.

 

  1. Colagens: elas podem ser feitas com recortes de imagens que ilustrem o que sente ou, simplesmente, por papéis rasgados ou amassados. O ato de rasgar e amassar papéis já ajuda a aliviar tensões. Podem ser feitas em folhas de papel ou sobre um rolo de papel toalha ou de papel higiênico, por exemplo. Também podem ser utilizados outros recursos como botões, linhas, retalhos, folhas, fitas ou qualquer outro material que você tenha disponível na sua casa. Os materiais podem ser colados de forma organizada ou aleatóriamente preenchendo o espaço, o importante é fazer da maneira que sentir confortável e no seu ritmo. Deixe o sentimento te guiar. É uma técnica simples que ajuda na nossa organização e estruturação.

 

  1. Desenho: lembre-se que não é preciso “saber desenhar”. Representar os sentimentos através de desenhos e linhas, sejam estruturados, abstratos ou por garatujas/rabiscos, ajudam a dar uma forma para eles. Os materiais que podem ser utilizados são: caneta, lápis, lápis de cor, giz de cera… Caso esteja acompanhando alguém que se expressa somente através de garatujas ou que tenha dificuldade na expressão verbal, observe a forma e intensidade da sua expressão para buscar compreender como o sentimento está dentro dela, por exemplo, se o traçado foi forte, se está bem marcado ou suave, se tem linhas curvas ou retas e qual a velocidade dos movimentos. Repita a mesma atividade em outros dias e observe se há alguma alteração nessa intensidade. Lembre-se que o ritmo da atividade quem dá é quem está realizando.

 

  1. Pintura: se você tem tintas em casa, a pintura é uma ótima alternativa para expressar sentimentos, ela proporciona muitas experiências sensoriais. Experimente deixar disponível distintas consistências da tinta – mais concentrada ou mais aquosa – e perceba o que sente utilizando cada uma delas. Para aquelas pessoas que possuem dificuldade em deixar as mãos longe do rosto, há, também, possibilidade de fazer tintas com gelatina, iogurte, amido de milho, gelo, entre outros… as receitas são encontradas facilmente na internet. A pintura pode ser feita com vários materiais além do pincel ou da própria mão: garfo, algodão, cotonete, barbante, esponja, escova de dente… experimente intrumentos diferentes.

 

  1. Escrita: para quem possui essa habilidade, a escrita é outra forma de identificar os sentimentos. Seja através de palavras soltas, frases, um diário, uma história… escrever pode ajudar a organizar o que está sentindo. A escrita pode ser feita descrevendo as sensações no corpo, relacionando em qual parte do corpo elas aparecem, pode construir metáforas, fazer comparações do que sente com outras situações que já vivenciou, as palavras podem ser escritas com letras de diferentes formas ou simplesmente deixar fluir no papel as palavras e frases que forem surgindo. Escrever o que sente ajuda a organizar e compreender o sentimento.

 

Essas quatro sugestões são simples e fortes facilitadoras para entender o que sentimos. Colocar para fora e concretizar os sentimentos através da arte ajuda a identificá-los ou enxergá-los de forma diferente. Você também pode “revisitar” suas expressões e modificá-las de acordo com as novas sensações e descobertas que forem surgindo no decorrer dos dias. Essas atividades podem ser feitas dirigidas, como por exemplo: represente a tristeza, represente a alegria, ou de forma mais livre: represente o que está sentindo agora.

 

Apesar de não ser necessário (e não se cobre esse exercício, está tudo bem se for difícil para você) escrevo algumas sugestões que podem ajudar a entrar em contato com esse sentimento: feche os olhos por alguns instantes, perceba como está a sua respiração (faça isso durante 10 ciclos: inspirar-expirar) e tente enxergar esse sentimento dentro de ti. Você o percebe em qual(is) parte(s) do seu corpo? Qual é a sua intensidade? É suave? É forte? Ele tem alguma forma? Ele tem cor? Tem alguma textura? Tem movimento?

 

Vale pontuar que essas atividades, além do intuito que aqui ressaltei, também exercitam as funções cognitivas e coordenação motora de quem as realiza.

 

Há uma infinidade de possibilidades artísticas para expressar o que sentimos. Procurei, com essas sugestões, trazer algo bastante acessível para o momento que estamos passando. Caso você tenha facilidade em buscar outros materiais e queira um suporte para novas atividades, entre em contato comigo: iara@iarasimonetti.com.br

 

Iara Simonetti Racy

CRP 06/79220